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Células estaminais do cordão umbilical e plasma rico em plaquetas no tratamento de úlcera de pressão em doente hospitalizado

Entre as consequências mais comuns em doentes hospitalizados por longos períodos encontram-se as úlceras de pressão, um problema globalmente reconhecido devido à dificuldade de tratamento, extensão dos tempos de internamento e maior suscetibilidade a infeções por parte destes doentes. Estas lesões constituem um problema recorrente em doentes submetidos a cirurgias, e desenvolvem-se devido à permanência nas mesmas posições durante longos períodos. As intervenções cirúrgicas podem limitar o fluxo de sangue e levar a uma diminuição do tónus muscular numa determinada região do corpo, conduzindo ao desenvolvimento de úlceras de pressão. Estas apresentam, atualmente, muitos desafios, estando o tratamento conservador geralmente indicado para úlceras menos graves (de Grau I e II); para as úlceras graves (de Grau II e IV) as abordagens terapêuticas atuais incluem cirurgia e terapia por pressão negativa. A utilização de células estaminais mesenquimais (MSCs) apresenta-se como uma terapia muito atrativa para a cicatrização de tecidos, devido às suas características regenerativas e capacidade de promover angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos), posicionando-se como potencial alternativa para o tratamento de feridas de difícil cicatrização.

O relato de um caso clínico publicado na revista científica Frontiers demonstra o potencial das células estaminais mesenquimais do cordão umbilical (UC-MSCs) juntamente com plasma rico em plaquetas (PRP) do próprio doente no tratamento de úlceras de pressão. O PRP, obtido a partir de sangue do próprio doente (autólogo), é plasma rico em plaquetas, fatores de crescimento e outras proteínas, com demonstrada capacidade cicatrizante e regenerativa. Para além disso, o PRP é capaz de prolongar a sobrevivência das MSCs aplicadas, contribuindo para a melhoria e rapidez da cicatrização de úlceras de pressão, em comparação com tratamentos tradicionais. O presente relato refere-se ao caso de um homem de 49 anos que, após 14 dias de hospitalização devido a uma cirurgia, desenvolveu uma úlcera de pressão (de Grau I) no calcanhar direito. Apesar de várias medidas preventivas e tentativas de tratamento precoce, o tamanho e a profundidade da úlcera de pressão acentuaram-se, provocando, após 130 dias de internamento, uma lesão profunda dos tecidos na zona da ferida (entretanto já de Grau IV). A equipa médica que seguia o doente decidiu recorrer à utilização combinada de UC‑MSCs e PRP, através de injeção intradérmica nas margens da úlcera. Após a realização de um único tratamento, a ferida foi coberta com um penso transparente e antiaderente, não tendo sido utilizados cremes ou pensos locais com ação cicatrizante. O doente foi mantido em vigilância durante 47 dias e a condição da lesão foi avaliada diariamente. Quatro dias após a aplicação da terapia, o doente apresentou cicatrização progressiva da úlcera de pressão; entre os dias 4 a 33, foi claramente observada a formação de novos tecidos; e ao 47º dia, a ferida estava praticamente cicatrizada, tendo a dor do doente na zona da ferida diminuído. Durante 12 meses de seguimento, não foi relatado nenhum evento adverso, tendo-se assistido a um processo de cicatrização que foi acompanhado por um aumento da neovascularização na área da ferida.

 

O tratamento experimental foi bem tolerado, seguro e eficaz

Este estudo, que avaliou a segurança e a eficácia da injeção intradérmica de UC‑MSCs em conjunto com PRP na melhoria e aceleração da cicatrização da úlcera de pressão deste doente mostrou, segundo a equipa médica que o seguiu, que o tratamento experimental foi bem tolerado, seguro e eficaz. Estes resultados demonstram os efeitos positivos da administração combinada de MSCs do cordão umbilical com PRP autólogo no tratamento de úlceras de pressão. As características anti-inflamatórias, angiogénicas e regenerativas das MSCs conjugadas com as propriedades cicatrizantes e regenerativas do PRP posicionam esta terapia como uma abordagem promissora para o tratamento de feridas de difícil cicatrização. Este caso representa mais um avanço na investigação por novas formas de tratamento de feridas crónicas. Contudo, são necessários mais estudos, especialmente, em grande escala, para confirmar a eficácia da utilização de MSCs ou PRP, isoladamente ou em combinação, e para determinar o melhor plano para a sua aplicação, de modo a melhorar a sobrevivência e qualidade de vida dos doentes.

 

Referência:

– Zhou C. et al., Combined treatment of umbilical cord Wharton’s jelly-derived mesenchymal stem cells and platelet-rich plasma for a surgical patient with hospital-acquired pressure ulcer: a case report and literature review. Front. Bioeng. Biotechnol., (2024), https://doi.org/10.3389/fbioe.2024.1424941