Células do tecido do cordão umbilical promovem reparação óssea e previnem perda óssea da cabeça do fémur em osteonecrose
A osteonecrose da cabeça do fémur (ONCF) é uma doença incapacitante que provoca limitações com grande impacto na qualidade de vida, e que se caracteriza pela morte do tecido ósseo resultante de um comprometimento na circulação sanguínea na cabeça do fémur. Trata-se de uma patologia que afeta primariamente adultos entre os 30 e os 50 anos de idade e que constitui um problema global, estimando-se que só nos EUA 20.000 a 30.000 pessoas sejam diagnosticadas com osteonecrose a cada ano. Durante o processo de osteonecrose, o processo de reabsorção óssea fica mais ativo e a capacidade de gerar novo tecido ósseo fica debilitada, o que resulta no enfraquecimento da estrutura óssea, ocorrendo, em última instância, o colapso e perda da esfericidade da cabeça do fémur. A intervenção precoce é particularmente importante e vários métodos têm sido usados com o objetivo de preservar a articulação, incluindo medicação, fisioterapia e cirurgia. Nem sempre estes tratamentos permitem alcançar os resultados desejáveis e a sua eficácia varia amplamente. É, assim, necessário, desenvolver tratamentos mais eficazes para ONCF e atuar na fase inicial do desenvolvimento da doença. Dado que muitos estudos têm mostrado que as células estaminais mesenquimais são capazes de promover a reparação óssea, coloca-se a hipótese de, na fase inicial da doença, se recorrer à administração de células estaminais mesenquimais com o objetivo de tentar compensar a redução do número e da capacidade de proliferação celular, permitindo desse modo atrasar a progressão da doença e, até mesmo, evitar o colapso da cabeça do fémur. Entre os vários tipos de células estaminais mesenquimais, as do tecido do cordão umbilical apresentam vantagens, como o seu fácil acesso, baixa imunogenicidade e facilidade de multiplicação em laboratório, tendo já sido testadas para o tratamento de várias doenças, sem rejeição imunológica ou desenvolvimento de reações adversas graves. Neste contexto, uma investigação recente pretendeu estudar o potencial terapêutico das células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical num modelo animal de ONCF traumática em estádio inicial.
CÉLULAS DO CORDÃO UMBILICAL AUMENTAM A OSTEOGÉNESE E A CAPACIDADE CONDROGÉNICA NA CABEÇA FEMORAL NUM MODELO ANIMAL DE ONCF TRAUMÁTICA
Assim, células estaminais mesenquimais do cordão umbilical foram administradas na cabeça do fémur de animais com ONCF traumática em fase inicial, tendo os resultados sido analisados 4 e 8 semanas depois. Para avaliar o efeito terapêutico destas células, a cabeça femoral foi analisada através da avaliação da densidade mineral óssea, do volume e da estrutura óssea, entre outros parâmetros. Quatro semanas após o tratamento, as células estaminais do tecido do cordão umbilical ainda se encontravam presentes na cabeça do fémur, contrariamente ao verificado no grupo analisado às 8 semanas depois do tratamento. Após o tratamento, a estrutura da cabeça do fémur mostrou uma melhoria notável em comparação com o grupo de animais não tratado com células estaminais. No grupo de animais avaliado quatro semanas após o tratamento, a densidade e a organização do tecido ósseo na cabeça femoral eram semelhantes às do grupo de animais saudáveis. Para além disso, observou-se ainda que, no período de 4 semanas, as células estaminais do tecido do cordão umbilical melhoraram a osteogénese (formação de novo osso) e a condrogénese (formação de nova cartilagem) na cabeça femoral em modelo animal de ONCF traumática. No entanto, ao longo do tempo, o efeito positivo das células estaminais diminuiu, conforme observado às 8 semanas após tratamento, o que indica que as células estaminais podem, com o tempo, desaparecer do local onde são administradas, sugerindo que poderá ser necessária a administração repetida de células estaminais para manter a sua eficácia. Segundo os autores deste estudo, o efeito terapêutico das células do tecido do cordão umbilical resultou principalmente da ação promovida pela secreção de um grande número de moléculas com atividade biológica (citocinas), tendo os níveis destas moléculas sido semelhantes no soro dos animais às 4 e 8 semanas após o tratamento com células estaminais. O processo de osteonecrose caracteriza-se pela morte celular isquémica de tecido ósseo e por células ósseas com capacidade limitada de autorreparação. Apesar deste microambiente adverso da cabeça do fémur em osteonecrose, este estudo mostra que, as células estaminais do tecido do cordão umbilical administradas localmente são capazes de sobreviver e afetar positivamente a cabeça femoral com ONCF traumática em estádio inicial, tendo promovido a reparação óssea e prevenido a perda óssea na área necrótica (em morte celular) da cabeça do fémur. Segundo os autores do estudo, a administração de células estaminais do tecido do cordão umbilical na cabeça femoral pode promover a estabilidade da estrutura óssea e evitar mais deterioração devida à ONCF, sugerindo que as células estaminais do tecido do cordão umbilical podem constituir uma opção de tratamento para doentes que apresentam ONCF. Os resultados obtidos dão, assim, suporte à aplicação clínica destas células nesta doença, sendo, no entanto, necessários mais estudos para confirmar a eficácia da administração das células estaminais do tecido do cordão umbilical em ONCF.
Referências
Zhao J, et al., Therapeutic effect of human umbilical cord mesenchymal stem cells in early traumatic osteonecrosis of the femoral head. .J Orthop Translat. 2022 Oct 14;37:126-142.
Miyahara H, et al., Osteonecrose da cabeça femoral: Artigo de atualização, Rev Bras Ortop 2022;57(3):351–359.
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