As células estaminais, também chamadas células mãe, têm a capacidade de dar origem às células especializadas que constituem os vários tecidos e órgãos do nosso corpo. As suas características únicas permitem a substituição das células que vão morrendo ao longo da vida e também a reparação de tecidos danificados, apresentando, assim, um enorme potencial para o tratamento de diversas doenças.
As características que distinguem as células estaminais dos outros tipos de células são:
capacidade de originarem novas células estaminais
capacidade de se dividirem indefinidamente
capacidade para se transformarem em diferentes tipos de células especializadas em determinadas funções
Existem células estaminais em diversos tecidos do nosso organismo – como a pele, o cérebro, a medula óssea, o tecido adiposo, o sangue periférico e o fígado. Adicionalmente, também é possível encontrar células estaminais em tecidos neonatais, como o sangue e o tecido do cordão umbilical.
Graças às suas características especiais, as células estaminais têm vindo a ser investigadas para o tratamento de um número crescente de doenças. Para utilizar células estaminais num tratamento, é preciso obtê-las de forma segura e em quantidade clinicamente relevante. Atualmente, o cordão umbilical é uma das fontes preferenciais de células estaminais para medicina regenerativa (1,2).
Referências:
O sangue do cordão umbilical é rico em células estaminais hematopoiéticas, como as que existem na medula óssea, que são capazes de produzir todas as células do sangue e sistema imunitário. Estas células são atualmente usadas em transplantes hematopoiéticos, cujo objetivo é substituir a medula óssea doente ou deficitária de um indivíduo doente, por células estaminais saudáveis, no sentido de regenerar a sua medula óssea.
APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS ATUAIS
Desde o sucesso do primeiro transplante, em 1988, foram já realizados mais de 45.000 transplantes de sangue do cordão umbilical, em crianças e adultos, para o tratamento de mais de 90 doenças, principalmente doenças malignas do sangue, como leucemias (e.g. leucemia mieloide aguda) e linfomas, mas também imunodeficiências, anemias (e.g. anemia aplástica, anemia falciforme) e doenças metabólicas hereditárias(1).
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Atualmente, o sangue do cordão umbilical constitui uma fonte de células estaminais importante no panorama da transplantação hematopoiética a nível mundial, permitindo o acesso desta opção terapêutica a mais doentes.
– Desde 1988, data do primeiro transplante, foram já realizados mais de 45 mil transplantes de sangue do cordão umbilical(1).
– Nos EUA, foram realizados cerca de 500 transplantes de sangue do cordão umbilical por ano, no período de 2016-2018(2).
– Na Europa, realizaram-se, em média, 375 transplantes de sangue do cordão umbilical por ano, no mesmo período(3-5).
– Segundo um estudo realizado na Europa, mais de 500 crianças com doenças hemato-oncológicas foram transplantadas com células estaminais do sangue do cordão umbilical de um dador familiar, com resultados favoráveis(6).
Os transplantes de sangue do cordão umbilical têm dado passos seguros no nosso país. O primeiro transplante com células estaminais do sangue do cordão umbilical realizado em Portugal foi em 1994, no IPO de Lisboa. Uma criança de 3 anos, que sofria de leucemia mieloide crónica juvenil, entrou em remissão após ser transplantada com as células do sangue do cordão umbilical do seu irmão, colhidas durante o parto.
– Segundo dados oficiais, entre 2002 e 2019, foram realizados, em Portugal, mais de 80 transplantes com células estaminais do sangue do cordão umbilical, nos vários centros de transplantação nacionais.
O primeiro transplante de células estaminais do cordão umbilical em Portugal foi realizado em 1994
VANTAGENS DO SANGUE DO CORDÃO UMBILICAL
Os resultados dos transplantes com sangue do cordão umbilical são comparáveis aos obtidos com medula óssea(7,8), estando associados a algumas vantagens(7,9-11), nomeadamente:
Utilização alogénica – o doente é tratado com células estaminais de outra pessoa compatível.
Num transplante alogénico, o dador pode ser, ou não, familiar do doente. Contudo, o sucesso do transplante é superior quando ambos (dador e doente) são familiares. Desta forma, a utilização de sangue do cordão umbilical entre irmãos é preferível à de dadores não relacionados(12).
Por estes motivos, em 1995, surgiu, nos EUA, o primeiro banco familiar de sangue do cordão umbilical, com o objetivo de dar às famílias a oportunidade de guardar as células estaminais do sangue do cordão umbilical dos seus filhos, de forma a estarem disponíveis, a qualquer altura, para um eventual tratamento. A partir de 2003, com a fundação da Crioestaminal, esta opção passou a estar disponível também para as famílias portuguesas.
SANGUE DO CORDÃO UMBILICAL E O FUTURO
A investigação com células estaminais é das áreas mais promissoras da medicina. Esta realidade é sublinhada pelos milhares de ensaios clínicos em curso com células estaminais de várias fontes, envolvendo milhares de doentes em todo o mundo, para o tratamento de um conjunto muito alargado de doenças (cardiovasculares, autoimunes, neurodegenerativas, etc.). Em 2012, o potencial desta área foi mais uma vez reconhecido pela atribuição do prémio Nobel da Medicina a dois investigadores da área das células estaminais.
Nos últimos 30 anos, as aplicações terapêuticas do sangue do cordão umbilical têm conhecido extraordinários progressos. Um dos mais significativos foi o começo da utilização destas células fora do contexto da transplantação hematopoiética. A primeira utilização de sangue do cordão umbilical em medicina regenerativa aconteceu em 2005, nos EUA, para o tratamento de uma criança com lesões neurológicas. Desde então, tem-se assistido ao uso crescente destas células para o tratamento experimental de problemas do foro neurológico, nomeadamente paralisia cerebral, associado à melhoria dos sintomas. Oito crianças portuguesas foram já tratadas com o seu sangue do cordão umbilical, guardado à nascença na Crioestaminal, para este tipo de aplicações.
Atualmente, estão registados mais de 230 ensaios clínicos com células estaminais do sangue do cordão umbilical para aplicações de medicina regenerativa(13). Estas células têm vindo a alcançar resultados promissores em doenças como a paralisia cerebral, a perda auditiva adquirida, a hipoplasia do coração esquerdo (doença cardíaca congénita), a encefalopatia hipóxico-isquémica neonatal (falta de irrigação sanguínea e oxigenação cerebral em recém-nascidos), entre outras. Nestes estudos, são preferencialmente usadas células do próprio, de forma a aumentar a segurança e sucesso do tratamento.
Ao contrário do sangue do cordão, o tecido do cordão umbilical é muito rico em células estaminais mesenquimais. Estas têm a particularidade de poderem dar origem a cartilagem, osso e músculo, entre outros tecidos, e, para além disso, têm a capacidade de promover a regeneração de tecidos danificados e de regular o sistema imunitário, o que lhes confere um enorme potencial para o tratamento de diversas doenças, nomeadamente de caráter autoimune.
Potencial Terapêutico
As células do tecido do cordão umbilical podem ser transplantadas em conjunto com as células do sangue do cordão umbilical ou da medula óssea, com o objetivo de reduzir as complicações dos transplantes hematopoiéticos alogénicos. Estas células têm a capacidade de acelerar a recuperação do sistema imunológico após o transplante(1), fator determinante para a sobrevivência do doente, e estão também a ser utilizadas em contexto experimental para o tratamento de doença do enxerto contra o hospedeiro, uma complicação frequente e potencialmente fatal dos transplantes alogénicos(2).
Para além da sua utilização em transplantes, as células do tecido do cordão umbilical estão a ser investigadas para o tratamento de um leque cada vez mais alargado de doenças, com resultados promissores(3).
Conheça os resultados de alguns estudos experimentais realizados com células estaminais do tecido do cordão umbilical para o tratamento de doentes com:
– Autismo
– Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
– COVID-19
– Cardiopatia isquémica crónica
Atualmente estão registados mais de 290 ensaios clínicos com células do tecido do cordão umbilical para aplicações de medicina regenerativa(2), o que indica que estas poderão vir a ser utilizadas futuramente para o tratamento de várias doenças. O número de ensaios clínicos com estas células tem vindo a crescer de ano para ano(2), o que reflete, não só o seu enorme potencial terapêutico, como as suas vantagens, nomeadamente o facto de serem células muito jovens, com grande capacidade de multiplicação e facilmente obtidas através de uma colheita não invasiva e indolor, na altura do parto.
Número de ensaios clínicos em crescimento
Referências:
O tecido adiposo – a gordura presente no nosso corpo – é uma fonte muito rica de células estaminais mesenquimais. Estas células conseguem diferenciar-se em vários tecidos músculo-esqueléticos, como o osso e a cartilagem, estimulam a regeneração de outros tecidos, e têm a capacidade de regular a atividade do sistema imunitário, características que lhes conferem um enorme potencial terapêutico.
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O parto é um momento único, no qual podem colher-se dois tipos de células estaminais – as do sangue e as do tecido do cordão umbilical – de forma simples e totalmente indolor para a mãe e para o bebé. Através da criopreservação, estas podem ser armazenadas por longos períodos, de forma a estarem disponíveis a qualquer momento, para um eventual tratamento. De modo a guardar as células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical, estas devem ser colhidas no momento do parto e criopreservadas dentro das primeiras 72h.
A criopreservação consiste em conservar as células por longos períodos, a baixas temperaturas (-196º C), sem que estas percam a sua viabilidade, podendo ser facilmente descongeladas para utilização em caso de necessidade, para o tratamento de várias doenças.
Atualmente, as células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical são armazenadas durante 25 anos, pois é este o período em que, de acordo com os últimos estudos publicados, a viabilidade celular é assegurada.
Sabia que...