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Ensaio clínico investiga células estaminais mesenquimais para tratar recém-nascidos que sofreram AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), embora geralmente mais associado à população adulta, encontra-se entre as dez principais causas de morte em idade pediátrica. Uma parte dos AVCs infantis ocorre no período perinatal, entre as 20 semanas de gestação e os 28 dias após o nascimento. Apesar de serem eventos raros, os AVCs perinatais são graves, na medida em que podem deixar sequelas para o resto da vida. Paralisia cerebral, défice cognitivo, epilepsia e atrasos na linguagem são problemas que podem advir de um AVC perinatal. Cerca de metade dos AVCs perinatais são causados pela interrupção no fornecimento de oxigénio a uma determinada zona do cérebro e designam-se por AVCs arteriais isquémicos perinatais.

Atualmente não existe nenhum tratamento eficaz para tratar recém-nascidos que sofreram AVC, sendo urgente a procura de opções terapêuticas capazes de prevenir ou atenuar as suas sequelas. Um ensaio clínico, realizado nos Países Baixos, procurou explorar uma forma inovadora de tratar estes recém-nascidos, usando células estaminais mesenquimais. Os resultados deste estudo foram recentemente publicados na prestigiada revista científica The Lancet Neurology.

CÉLULAS ESTAMINAIS SEGURAS EM RECÉM-NASCIDOS QUE SOFRERAM AVC ARTERIAL ISQUÉMICO

As células estaminais mesenquimais, que podem ser obtidas a partir de tecido do cordão umbilical e medula óssea, entre outros tecidos, demonstraram capacidades neurorregenerativas em modelo animal, e a sua segurança foi já demonstrada em vários ensaios clínicos. Foi esta a base para a realização do novo estudo, que procurou averiguar a exequibilidade e a segurança de tratar recém-nascidos que sofreram AVC com células estaminais mesenquimais, nos primeiros sete dias de vida. Neste ensaio clínico participaram dez recém-nascidos de termo, com diagnóstico de AVC isquémico arterial perinatal, que apresentavam convulsões, em alguns casos acompanhadas de dificuldades respiratórias. O tratamento experimental consistiu na administração intranasal de células estaminais mesenquimais – obtidas a partir da medula óssea e multiplicadas em laboratório – sob a forma de gotas. Seguiu-se um período de monitorização de pelo menos 4 dias e uma consulta de acompanhamento aos três meses após o nascimento.

Os autores consideraram todo o processo que envolveu o tratamento experimental exequível e não observaram quaisquer efeitos adversos graves durante o tratamento ou nos três meses seguintes, o que indica a segurança desta terapia a curto-prazo. Adicionalmente, os investigadores avaliaram a extensão dos danos neurológicos no trajeto que leva a informação motora do córtex cerebral até à espinal medula, como uma medida preliminar potencialmente indicadora de eficácia. As imagens de ressonância magnética crânio-encefálica obtidas antes do tratamento experimental, na primeira semana de vida, mostraram alterações neurológicas em todos os recém-nascidos que, por comparação com imagens obtidas aos três meses de idade, pareceram melhorar em seis dos bebés.

Tratando-se de um ensaio clínico sem grupo controlo, com reduzido número de participantes e com um período de seguimento curto, pensado para avaliar a exequibilidade e segurança deste método de tratamento inovador, não é possível concluir acerca da sua eficácia na prevenção de sequelas de AVC pediátrico. Ainda assim, os resultados indicam que o tratamento de AVC com células estaminais mesenquimais é seguro nesta população de doentes, abrindo caminho para a realização de estudos mais alargados, que permitam avaliar a sua eficácia.

Segundo os autores, este foi o primeiro ensaio clínico a avaliar a segurança da administração intranasal de células estaminais mesenquimais a recém-nascidos, que consideram ser uma estratégia promissora no tratamento de recém-nascidos com vários tipos de lesões neurológicas.

 

Referências:

Baak LM, et al. Feasibility and safety of intranasally administered mesenchymal stromal cells after perinatal arterial ischaemic stroke in the Netherlands (PASSIoN): a first-in-human, open-label intervention study. Lancet Neurol. 2022. 21(6):528-536.

Rodrigues A, et al. Acidente vascular cerebral perinatal: 11 casos clínicos. Acta Pediatr Port. 2015. 46:24-27.

https://neuropediatria.pt/index.php/pt/para-os-pais/particularidades-do-avc-na-crianca, acedido a 9 de junho de 2022.

 

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