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Ensaio clínico mostra benefícios da administração de células estaminais a crianças com diabetes tipo 1

A prevalência da diabetes está a aumentar, tanto em adultos como em idade pediátrica, sendo considerada pela Federação Internacional de Diabetes um dos problemas de saúde global de mais rápido crescimento do século XXI. Atualmente, há mais de 537 milhões de diabéticos, número que se estima atingir 643 milhões, em 2030, e 783 milhões, em 2045. Cerca de 5,2 – 5,6 % dos adultos diabéticos têm diabetes tipo 1, uma doença metabólica autoimune, caracterizada pela destruição das células do pâncreas produtoras de insulina, causada por um desequilíbrio do sistema imunitário. Em consequência, a regulação da concentração de glicose no sangue falha, originando várias complicações, como crises de hiperglicemia, nefropatia, retinopatia e doença cardiovascular. Os doentes com diabetes tipo 1 dependem da administração de insulina exógena, para compensar a que está em falta no organismo. No entanto, esta opção de tratamento apresenta limitações, como a necessidade de ser administrada durante toda a vida, a dificuldade em manter os níveis ideais de insulina no sangue e a potencial resistência à insulina, que pode surgir a longo-prazo. Pela capacidade de regularem a atividade do sistema imunitário e, desse modo, poderem preservar a função das células produtoras de insulina, as células estaminais mesenquimais têm vindo a ser testadas no contexto da diabetes tipo 1. Assim, uma das estratégias terapêuticas inovadoras que tem vindo a ser investigada para o tratamento desta doença, é a administração de células estaminais mesenquimais, que podem ser obtidas a partir do cordão umbilical ou da medula óssea, entre outros tecidos. Foram recentemente publicados os resultados de um ensaio clínico que pretendeu avaliar a segurança e a eficácia da administração intravenosa de células estaminais mesenquimais – neste caso obtidas a partir da medula óssea do próprio – a doentes com diabetes tipo 1.

CÉLULAS ESTAMINAIS MESENQUIMAIS MELHORAM CONTROLO DA GLICÉMIA EM CRIANÇAS COM DIABETES TIPO 1

Este ensaio clínico de fase I/II incluiu 21 participantes, em média com cerca de 10 anos de idade, recentemente diagnosticados com diabetes tipo 1. No início do estudo, os participantes foram distribuídos em dois grupos: o grupo A, que recebeu duas doses de células estaminais mesenquimais, poucas semanas após o início do estudo; e o grupo B, que recebeu solução salina (placebo), na mesma altura. Após um ano, os participantes inicialmente tratados com células estaminais receberam placebo, e vice-versa. Os participantes foram acompanhados durante dois anos para avaliação da segurança e eficácia do tratamento experimental.

Durante o período de seguimento, não foram observados efeitos adversos graves decorrentes da administração de células estaminais, tendo o procedimento sido considerado seguro. Para além disso, verificou-se que, aos 12 meses após tratamento, a administração de células estaminais esteve associada a uma redução significativa do número de episódios de hipoglicémia – uma das principais complicações da diabetes tipo 1 em crianças – e da hemoglobina glicosilada, indicando um melhor controlo dos níveis de glicose no sangue (glicémia). Comparando os resultados do grupo A com os do grupo B, verificou-se, ainda, que o tratamento com células estaminais esteve associado ao aumento dos níveis de moléculas anti-inflamatórias no sangue e a melhorias na qualidade de vida, de acordo com os questionários respondidos pelos participantes.

A análise comparativa dos resultados do grupo que recebeu células estaminais por altura do diagnóstico com os do grupo tratado um ano, ou mais, após o mesmo, revelou que a administração destas células numa fase mais precoce parece ser mais vantajosa. Outro aspeto avaliado foi o impacto do exercício físico regular, tendo-se verificado que nos participantes que realizaram mais de 3,5 h de exercício físico por semana, adicionalmente à terapia com células estaminais, se registou uma diminuição significativa nos níveis de hemoglobina glicosilada– o que indica um melhor controlo da glicémia – e aumentou a quantidade de insulina endógena (i.e. produzida pelo organismo), comparativamente aos participantes que receberam placebo ou células estaminais e não praticaram exercício físico nos níveis recomendados.

Os resultados deste ensaio clínico indicam que as células estaminais mesenquimais da medula óssea do próprio têm efeitos benéficos em crianças com diabetes tipo 1, sobretudo se administradas numa fase precoce, e que estes efeitos são potenciados pela prática de exercício físico regular, de acordo com as recomendações atuais. É necessária a realização de mais estudos que permitam a otimização deste tratamento inovador, de forma a que este possa ser incorporado na prática clínica.

 

Referências:

Izadi M, et al. Mesenchymal stem cell transplantation in newly diagnosed type-1 diabetes patients: a phase I/II randomized placebo-controlled clinical trial. Stem Cell Res Ther. 2022 Jun 20;13(1):264.

https://idf.org/aboutdiabetes/what-is-diabetes/facts-figures.html, acedido a 19 de julho de 2022.

 

 

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