Novo estudo evidencia potencial das células estaminais do cordão umbilical para o tratamento de lesões da espinal medula
Uma lesão da espinal medula, também designada de lesão medular ou traumatismo vertebro‑medular, ocorre quando, por algum motivo, a espinal medula sofre algum dano ou lesão resultando em perda de funções sensoriais e motoras. A sintomatologia varia amplamente, dependendo do nível e/ou gravidade da lesão. As estratégias atuais de tratamento incluem a estabilização mecânica da coluna vertebral e o controlo da inflamação local para evitar mais danos. No entanto, a ausência de qualquer tratamento capaz de reverter os danos da espinal medula tem estimulado o desenvolvimento de novas abordagens baseadas no uso de células estaminais. A terapia celular tem recebido considerável atenção para o tratamento de lesões traumáticas da espinal medula com o objetivo de promover a recuperação funcional, sendo o recurso a células estaminais mesenquimais o principal foco nesta área. A utilização terapêutica destas células beneficia do facto de não desencadearem rejeição imunológica, para além de estarem associadas a um excelente perfil de segurança, tendo já sido testadas numa variedade de condições que requerem modulação da inflamação e/ou controlo do sistema imunitário desregulado. Adicionalmente, as células estaminais mesenquimais do cordão umbilical apresentam vantagens face às de outras fontes, principalmente devido ao fácil acesso e facilidade de multiplicação em laboratório. No contexto de um ensaio clínico de fase I/IIa, foi já publicado que uma dose única de células mesenquimais do cordão umbilical administrada por via intratecal (diretamente no líquido cefalorraquidiano, entre vértebras) é segura e induz efeitos positivos, embora limitados à melhoria sensorial nos segmentos adjacentes à lesão, em doentes com lesão medular traumática crónica completa ao nível torácico [1]. Esses resultados promissores levaram os investigadores a avaliar a segurança e a eficácia da administração repetida de células mesenquimais do cordão umbilical. Assim, foram recentemente publicados os resultados de um estudo [2] em que foi investigada a segurança (local e sistémica) e avaliada a eficácia da infusão intratecal, única e repetida, da administração de células estaminais mesenquimais do cordão umbilical em modelo animal de lesão medular traumática, com vista ao lançamento no mercado de um medicamento à base de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical para tratar lesões medulares.
ADMINISTRAÇÃO REPETIDA DE CÉLULAS MESENQUIMAIS DO CORDÃO UMBILICAL PROMOVE MELHORIA SIGNIFICATIVA NA LOCOMOÇÃO EM MODELO ANIMAL DE LESÃO MEDULAR
Neste estudo, os investigadores recorreram a um modelo animal de lesão medular ao nível torácico, o modelo de lesão medular que melhor reproduz a maioria dos casos traumáticos em humanos, tendo os animais de três grupos sido seguidos até 70 dias após a lesão. Aos 7 dias após a lesão, a um desses grupos foi administrada solução salina (grupo controlo) e a outro, uma dose única de células mesenquimais do cordão umbilical; um terceiro grupo recebeu injeções de células aos 7 e aos 14 dias após a lesão. Relativamente à segurança, não foi observada qualquer toxicidade associada à infusão de células mesenquimais do cordão umbilical. No que respeita à biodistribuição, os resultados mostram uma rápida eliminação das células após a injeção, não tendo sido detetada a sua presença (local ou sistémica) a médio/longo prazo após administração intratecal. Quanto à eficácia, aos 21 dias após a lesão, comparativamente ao grupo controlo, os dois grupos de animais que receberam células estaminais alcançaram pontuações mais altas na escala que permite avaliar a recuperação funcional após lesão medular, evidenciando os efeitos benéficos da administração das células. O grupo de animais que recebeu duas doses de células mesenquimais do cordão umbilical apresentou melhoria significativa na locomoção em relação aos outros dois grupos, uma semana após a segunda administração (21 após a lesão), tendo essa melhoria sido mantida ao 28º dia após a lesão. A análise dos tecidos revelou um aumento no volume do tecido medular que não sofreu lesão no grupo de animais tratado com duas doses de células mesenquimais do cordão umbilical. Os autores do estudo sugerem que os efeitos benéficos da administração repetida de células mesenquimais sejam mediados pela libertação de fatores de crescimento e moléculas anti‑inflamatórias, entre outras, criando um ambiente favorável à neuroproteção. Este possível mecanismo poderá ser responsável pela melhoria da locomoção observada no grupo que recebeu duas doses de células estaminais. Para além disso, a melhoria dos reflexos corporais e o aumento do volume de tecido não lesado podem estar diretamente relacionados com este efeito das células mesenquimais.
Em resumo, os resultados do presente estudo sugerem que, neste modelo animal de lesão medular, o tratamento baseado em células mesenquimais do cordão umbilical é seguro, não tendo sido observadas reações adversas, e promoveu ligeira preservação do tecido medular e melhoria funcional. Deste modo, o perfil de segurança e as evidências de eficácia suportam a prossecução para ensaios clínicos envolvendo o uso de múltiplas doses de células mesenquimais do cordão umbilical com vista ao desenvolvimento de um tratamento para doentes com lesões da espinal medula, que combina as atividades neuroprotetoras e neurorregenerativas destas células.
Referências
1- Albu S et al., Clinical effects of intrathecal administration of expanded Wharton jelly mesenchymal stromal cells in patients with chronic complete spinal cord injury: a randomized controlled study. Cytotherapy. 2021 Feb;23(2):146-156. doi: 10.1016/j.jcyt.2020.08.008. Epub 2020 Sep 25.
2- Vives J et al., Preclinical Development of a Therapy for Chronic Traumatic Spinal Cord Injury in Rats Using Human Wharton’s Jelly Mesenchymal Stromal Cells: Proof of Concept and Regulatory Compliance, Cells. 2022. Jul 8;11(14):2153. doi: 10.3390/cells11142153.
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