Sangue do Cordão Umbilical no Tratamento de Perda Auditiva Adquirida
A perda auditiva neurossensorial decorre da perda de células sensoriais auditivas da cóclea (ouvido interno). Mundialmente, existem mais de 270 milhões de pessoas afetadas por esta patologia. Em crianças, na maioria dos casos, a perda auditiva é adquirida (isto é, surge após o nascimento) e está associada a prematuridade, infeções virais ou bacterianas, exposição a ruídos ou a medicamentos tóxicos para o ouvido. O sentido da audição é crucial para o desenvolvimento da fala e da linguagem, pelo que é importante que uma eventual perda auditiva seja diagnosticada o mais precocemente possível. Atualmente, não existem tratamentos que reparem este problema. Os aparelhos auditivos e os implantes cocleares têm sido usados para melhorar os sintomas, mas não revertem a doença. Assim, na tentativa de reverter os danos da cóclea, várias estratégias inovadoras têm sido testadas. Vários estudos sugerem que as células do sangue do cordão umbilical permitem a restauração, pelo menos parcial, deste tipo de perda auditiva, através da estimulação da regeneração de células da cóclea.
Sangue do cordão umbilical autólogo é seguro em crianças com perda auditiva
Foram recentemente publicados os resultados de um ensaio clínico de fase 1 que teve como objetivo testar se a infusão autóloga de sangue do cordão umbilical é segura e viável, melhora a função do ouvido interno, a audição e o desenvolvimento da linguagem em crianças com perda auditiva adquirida moderada a grave. Para esse efeito, 11 crianças com perda auditiva, de idades compreendidas entre 6 meses e 6 anos, foram tratadas com o seu sangue do cordão umbilical, criopreservado à nascença. A função auditiva, a linguagem verbal auditiva e ressonância magnética indicadora da integridade funcional de partes do sistema nervoso relacionados com a audição foram avaliadas antes e após o tratamento. Todas as crianças toleraram bem a infusão de sangue do cordão umbilical e não houve registo de eventos adversos. Não foram registadas alterações das funções: hematológica, neurológica, hepática, renal ou pulmonar, relacionadas com a infusão. Cinco destas crianças apresentaram melhorias estruturais, comportamentais e funcionais após a infusão de sangue do cordão umbilical. Pelo facto destes resultados serem baseados numa pequena amostra de apenas 11 crianças, não é ainda possível tirar conclusões acerca da eficácia de infusões autólogas de sangue do cordão umbilical no tratamento de perda auditiva adquirida em crianças. No entanto, dado que esta perda auditiva não melhora com a idade, não se esperariam melhorias espontâneas nestas crianças, independentemente do uso concomitante de aparelhos auditivos ou de terapia da fala, o que evidencia o papel das células do sangue do cordão umbilical neste progresso. Os resultados de segurança demonstrados neste estudo conjuntamente com a promissora investigação em modelos animais, mostrando benefícios da administração de sangue do cordão umbilical para esta condição, constituem a base para a realização de ensaios clínicos de fase 2, que permitirão avaliar o real potencial terapêutico do sangue do cordão umbilical no tratamento de perda auditiva adquirida em crianças.
Referência: Safety of Autologous Umbilical Cord Blood Therapy for Acquired Sensorineural Hearing Loss in Children. Baumgartner et al., J Audiol Otol. 2018 Aug 22. doi: 10.7874/jao.2018.00115. [Epub ahead of print]