Tratamento inovador com células estaminais para Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune de caráter inflamatório, em que o sistema imunitário progressivamente destrói os circuitos nervosos do cérebro e espinal medula. A EM não tem cura, tratando-se de uma doença crónica, que pode levar a graves problemas motores, sensoriais e cognitivos, chegando a tornar-se incapacitante se não for adequadamente tratada. Para diminuir a frequência dos surtos e abrandar a progressão da doença, são utilizados medicamentos, nomeadamente corticosteroides, no entanto, estes não são capazes de reparar as lesões neuronais sofridas.
Uma nova estratégia a ser testada para o tratamento da EM é a administração de células estaminais mesenquimais (MSC, de Mesenchymal Stem Cells). O potencial das MSC para tratar esta doença advém das suas propriedades anti-inflamatórias e da sua capacidade para regular o sistema imunitário e estimular a reparação de lesões neurológicas. As MSC estão presentes em vários tecidos, como o cordão umbilical, a medula óssea e o tecido adiposo.
Foram recentemente divulgados os resultados de um ensaio clínico cujo objetivo foi determinar a segurança e eficácia da administração de MSC do tecido do cordão umbilical a 20 adultos com EM. Os participantes receberam sete infusões intravenosas de MSC, espaçadas de 1-4 dias, tendo sido avaliados antes e 1, 3 e 12 meses após o tratamento. Não se observaram efeitos adversos graves decorrentes do tratamento, tendo este sido bem tolerado.
Doentes com EM melhoram após tratamento com células do tecido do cordão umbilical
Após o tratamento, os participantes melhoraram a vários níveis, comparativamente à sua situação inicial. Observaram-se melhorias na função urinária, intestinal e sexual dos doentes tratados e, após um ano, mais de metade referiu sentir-se melhor, nomeadamente relativamente ao seu bem-estar geral e emocional, dor, fadiga e limitações físicas. Verificaram-se, ainda, melhorias significativas na destreza manual e facilidade em andar um mês após o tratamento, que se mantiveram ao fim de um ano. Notavelmente, houve doentes que melhoraram relativamente ao seu grau de incapacidade, o que não seria de esperar, tendo em conta a evolução natural da doença. Um ano após o tratamento, um doente em cadeira de rodas conseguiu voltar a andar utilizando um andarilho e outro que usava andarilho passou a conseguir andar sem assistência.
Um ano após o tratamento, o estudo por ressonância magnética revelou que 83% dos doentes não apresentou novas lesões ativas no cérebro ou progressão das lesões existentes e um doente mostrou resolução quase completa das lesões previamente detetadas, o que constituiu um resultado surpreendente.
Ao proporcionar melhorias sustentadas durante longos períodos de tempo, esta nova terapêutica pode, ainda, trazer outras vantagens a estes doentes, como a redução da medicação, geralmente administrada numa base diária ou semanal, e dos efeitos secundários que lhe estão associados. Neste estudo, 20% dos doentes conseguiu reduzir a dose de medicação para EM.
Os autores deste estudo concluem, assim, que a administração de MSC do tecido do cordão umbilical é segura em doentes com EM e está associada a melhorias a vários níveis, nomeadamente da função sexual e urinária, destreza física e qualidade de vida. Mais estudos, nomeadamente com maior número de doentes, são necessários para que este tratamento se consolide como uma alternativa terapêutica viável para a EM.
Referência:
Riordan et al., Clinical feasibility of umbilical cord tissue-derived mesenchymal stem cells in the treatment of multiple sclerosis. J Transl Med. 2018 Mar 9;16(1):57.